quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Fonte Híbrida

Jane, nascida Maria Aparecida
Seguia na vida a própria arte
E seduzia, por suas vias, pela voz e pela disritmia
Tal ela amava Heros, na Era de Aquários

No meio do mato, o meio-fio, o rastro
O sangue farto era do herói condenado
Jane deitou de lado e olhou o retrato
Perdido o bem amado - Afasta de mim este cálice - o vinho era salgado

Fonte Híbrida, dizia Jane os vasos do ventre
Jazia ali a semente híbrida do amor
Deitado ao lado o touro indomado
Que na calada da noite ansiava pelo melado

Da fonte parida, pela mãe natureza, por dois ventres
Desembocava três rios afluentes
Do útero renasce a própria vida
Do amor, a força agita, três crias

Jane de corpo e alma deixa a vida
Desolada, acalenta antes do grito
O nome decente da lua - que brilha - nasce primeiro, Selene
Agúdo no couro, - relato do touro - Álvaro, o coxo
Da dor do eterno e o breve perdido incerto
Gritou por seu pupilo Marcelo

Se bem antes expresso e não mencionado
Atílio melado, nos brios de Bento Santiago, no ciúmes de Otelo
Cortava em fogo as asas de Marcelo
Queimava em brasa os tocos de Álvaro, o coxo
Tapava a ferro a boca celeste de Selene

Ah se piedades tivesse Jane santa seria
Atílio deveras via a Era de Aquários nos olhos dos filho de Heros
Ah se piedades tivesses, Deus se compadecia

Ás vezes na rua, no beco, na sarjeta, Deus
Jesus Cristo que fala aos filhos do próprio pai - que és tu! -
Na terra se fazia em voz, e ao coxo pelas pernas curaria
Ele por paixão e graça o seguiria, asas nas costas tatuaria

Se santa Jane fosse ... apadrinharia a própria filha
Da voz se sentiria bonita
Da mãe a trilha seguiria
Asas nas costas tatuaria

Se Jane não tivesse partido, Santa seria
Marcelo, de falta de amor, constituiria família
Gaia, com três semente, engravidaria e enfim a família se consumaria
Do amor outrora interrompido, o parto, Marcelo acalentaria antes do grito - Selene, Álvaro, Marcelo! -
Asas nas costas tatuaria
(Rafael Carvalho Oliveira)


domingo, 10 de novembro de 2013

Do amor paternal e da verdadeira vocação existêncial

No ano passado eu odiava crianças. Esse ano fiz planos para ter três filhos. Tenho dezesseis anos. Mas estranhamente sonho em ser pai. Minha irmã diz que a chegada de três primos repentinamente amaciou o coração de todos nós, mas eu acredito que seja uma certa evolução de caráter e sentimentalismo. Fui uma criança muito amada, mas chorei muito pouco. Desde cedo percebi que a vida era dura e quem chorasse muito não venceria. Hoje na adolescência, choro tudo o que não chorei quando criança, quando fico muito tempo sem chorar me sinto seco e então se não tenho tristeza própria caço alguma em livros e filmes. É uma cede que tenho e que estimulo, sinto até certo prazer em sofrer (é uma forma de saciar a pena que sinto de mim mesmo), depois levanto e sigo a vida.
Diferentemente dos poucos amigos que tenho e das minhas ligações com o mundo, eu quero ser pai. Não sinto desejo algum de aproveitar a vida "aproveitando a vida", dá forma convencional, que todo mundo faz e acreditar ser transgressor. Aproveitar a vida é fazer aquilo que te traz satisfação, e a vida é curta. Primeiro fato. Rodeios são curtos. Segundo fato. A nossa casa dura mais tempo. Terceiro fato...
Hoje voltei de viagem, fui à praia, que pra mim é um pouquinho de Deus na Terra. E dessa vez encontrei também um anjo. Em família as viagens são tumultuadas por gente, e tenho muitos primos. Nessa manhã um menino loirinho de seis anos apareceu em nossa barraca:
- Ei, eu tenho um monte de carrinhos. Vamos brincar ?
Sentou com a gente e em poucos minutos já tinha feito amizade com todo mundo e era como mais um filho de outra mãe. Correu, gritou, brincou, dançou. Depois quis entrar no mar, mas tinha medo de ir sozinho e a mãe nem importava-se com o menino solto pela praia, ele foi comigo ...
Na água ele se preocupou com coisas que passavam debaixo do pé dele, então eu peguei uma bolacha-do-mar, e disse:
- Olha só, chama-se bolacha-do-mar.
- E pode comer ?


Eu fico admirado e contente quando tomo esse choques de imaginação infantil. Pra mim essa é a verdadeira realidade, a chatice de que os adultos se gabam é pura mentira inventada pra encher de não sei o que o vazio que o crescimento traz pro ser humano.
Daí que, papo-vai-papo-vem, esse garoto chamado Marcelo, passou o dia inteiro no meu encosto, rindo, falando, cantando e dançando. Eu cuidei dele como se fosse meu filho, e ele achou em mim algum presságio de paternidade. O que me admirei dele foi sua total cumplicidade com qualquer pessoa que chegasse perto. Primeiro ele fez parte da nossa família, depois pescou com uma senhora na beira do mar, depois enfrentou uns valentões que estavam entrando na água, pegou um caranguejinho na mão, montou nas minhas costas,  me falou da namoradinha da escola, me abraçou, perguntou se eu era seu amigo, repetiu que era meu filho, me falou que o pai dele arrepia o seu cabelo, se coçou inteiro e arrancou a sunga dizendo que tinha um espinho, me viu ajoelhado e perguntou se eu estava mijando, mijou duas vezes, lutou, pulou ondas, engasgou e fez parte da minha via por um dia. Eu o amei como se fosse meu, acho que ele também me amou no fundinho da sua alma novinha, comeu frango comigo, tiramos uma foto, bebeu suco de uva, soltou pipa, e eu fui embora, ele correu pra mãe dele e entrou de novo na água junto com uma tia.
Ele me fez refletir sobre como seriam meus filhos, a mãe dele tão despreocupada me fez crer que não ligasse pro filho, eu tive até vontade de adotar ele. Me deixou um pouco triste quando se foi, quero deixar ele aqui nesse post, pra não me esquecer do meu filho da areia. É impossível exprimir o que se sente quando se tem um ser humano de amor à sua tutela, e como você faz de tudo pra protegê-lo (a despretensão da mãe fez meus parentes se ofenderem e insultarem o menino). É essa a razão da humanidade, transmitir, canalizar o amor que se ganha e se recebe ... E é a verdadeira vocação humana, por mais rodeios que o mundo possa trazer. Adeus, Marcelo...


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Querido Deus,

Primeiramente quero pedir desculpa pela falta de contato e atenção, tenho me sentindo indigno pra lhe dirigir a palavras devido a uma série de anormalidade que vem tomando minha mente ultimamente. Eu passei meu último ano pedindo, implorando, rogando, chorando por mudanças. E agora a mudança bateu a minha porta e eu não sei se fico ou se vou.
Passados dezesseis anos de aprendizagem por segundos sobre ti, meu novo caminho me revelou impróprio e leviano à tua busca. Porém, essa porta abre pra todos os homens e se não me matar servirá como experiência pra o crescimento da prole ambulante e improvável que eu fui a vida toda. Hoje que tenho em mãos a oportunidade de ser aqueles que me negaram, a única coisa que me prende ao chão é a tua ausência.
Minha vida volta a ser uma ponte em forma de Y e eu não sei qual dos dois caminhos vou finalizar ...

Com amor,
Rafael