segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Agora tenho o que escrever...

Hoje sai. É tão difícil pra mim me mobilizar, ás vezes acho que sou um trio-elétrico cheio de ornamentações que é muito difícil de ser manipulado, por isso só sai uma vez por ano, mas isso é característica de gente pacata. Fui ao comércio da cidade, comprei roupas (exercício dificílimo essa pra mim, corre quase como dor, mas isso é assunto pra um post inteiro), fui à Secretaria da Cultura, tomar nota de cursos de música e teatro. Estou longe do teatro à meses e isso me aflige, mas estou embarcado em uma de música e quero tocar violão. Do meu teclado que abandonei e que me acusa toda vez que o vejo, cheio de pó, de resto de papel com cifras, isso tudo me dói muito quando vejo, mas eu não estou na minha maturidade pra retratar o erro. Estou no caminho ... Voltando pra minha segunda, peguei também a ficha de inscrição pro concurso de miniconto, ele foi prorrogado até fevereiro e tempo é lucro.
Estou à tantas tentando escrever esse post e assistir ao mesmo tempo alguém que estava me dando saudades, e à tantas eu não via. Mallu Magalhães que agora é só Mallu, à tantas eu não via, e ás tantas ela repete "ás tantas" durante o programa, docilmente, e sempre gosto de revê-la no Natal, descobri ela no Natal do ano passado (ou retrasado) e me identifiquei tanto que meus Natais desde então têm cor de pisca-pisca colorido e som de "Janta" música dela com o Marcelo.


Esse vídeo apareceu depois que revi "Vermelho" do Marcelo que postei ontem. Bom a Mallu têm uma sensibilidade e uma auto-aceitação tão grande que é impossível não pensar em si mesmo perante o trabalho dela. 
Quero um dia poder cantar com ela ...
Meu conta esta saindo muito falso perto daquilo que acho que deveria ser, e tenho medo de estar tratando de um assunto além da minha capacidade. Quero deixar um poema que encontrei na internet e que diz muito sobre aquilo que quero atingir, não sei quem é o autor e por enquanto não acho necessário procurar, acho que o poeminha do último elefante nadador precisa sair primeiro que o conto.

Minha Alma 

Estive olhando pro espelho por tanto tempo, que comecei a acreditar que a minha alma
está do outro lado...
Todos os pequenos pedaços caindo, quebrados...
Pedaços de mim, afiados demais para serem juntados, pequenos demais para terem
importância, mas grandes o suficiente para me cortar em tantos pequenos pedaços....
Se eu tentar tocá-lo.
E eu sangro. Eu sangro....
E eu respiro. Eu não respiro mais....
Eu respiro e tento desligar o que os meus espíritos induzem....
Mas como você consegue se recusar a beber como uma criança
 teimosa?
Minta para mim, me convença que eu sempre estive doente....
E que tudo isso fará sentido quando eu melhorar.....
Mas eu sei a diferença entre eu e o meu reflexo....
Eu simplesmente não posso deixar de imaginar...
Qual de nós você ama?
 Então eu sangro. Eu sangro.
E eu respiro. Eu respiro, não...
Sangro. Eu sangro.
E eu respiro. Eu respiro. Eu respiro. Eu não respiro mais.
Gustavo André


Acontece que eu tenho tempo, e isso é tudo.

domingo, 15 de dezembro de 2013

"A desistência é uma revelação. Desisto, e terei sido a pessoa humana - e só no pior da minha condição que esta é assumida como meu destino."

Clarice Lispector em "Paixão segundo G.H."

Estive a pouco escrevendo um texto pra aqui postar , mas ele se fez insosso. Daria-me então a falar de algum livro, um livro de entrevistas que estou lendo e que venho me deparando com personalidades intrigantes e estimulantes, porém isso também escorreu capenga, e estou morrendo. Hoje o dia não está pra escrita, só me resta ler. Então, como já abri o post e ele ficou vazio quero enchê-lo de música ...


Quase que essa música também não saiu, não me espantaria se o post não carregasse. A verdade é que me veio uma grande inspiração e nada além dela acho que vai sair de mim hoje, e isso meu amigo é a esperança ... 

sábado, 14 de dezembro de 2013

Chega mais perto e contempla as palavras/ Cada uma/ tem mil faces secretas sob a face neutra/ e te pergunta, sem interesse pela resposta/ pobre ou terrível que lhe deres/ Trouxeste a chave?

Carlos Drummond Andrade

No ano passado, fiz um curso de teatro em um centro cultural de Jundiaí e conheci um garoto que havia publicado dois minicontos em um concurso literário municipal. Ontem me lembrei dele e desse fato e resolvi então escrever dois minicontos para o mesmo concurso. Tenho um prazo de sete dias para escrever dois minicontos e enviar. 
O texto deve ter entre quinze e vinte linhas para ser considerado miniconto. E isso é assassinante. Quando escrevi Fonte Híbrida era como se não houvesse escrito, pensei que tinha apenas recebido a obra pronta, porque ela se escreveu em uma rapidez que não pude absorver, quase não havia tempo, o verso era me entregue e minha mão mal podia acompanhar com sua escrita. 
Ontem sentei e redigi, porém não acho que tenha feito bom trabalho, o texto puro não chegava a quinze linhas, fui obrigado a escrever mais e ele ficou carregado, supérfluo, talvez eu o exponha aqui se considera-lo impróprio. 
A verdade sobre esse fato é que escrevi sem inspiração, que é a raiz de toda arte. Chamei esse miniconto de Ela e o que difere Ela de Fonte Híbrida é que o miniconto não é deslumbrante como o poema, não me trouxe alegria nenhuma, ando até muito cansado por ele. A inspiração é a alma do trabalho, e Ela é um conto lindo porém ele me foi obrigado e não veio de bom grado. Sofro por isso... 
Ontem ouvi na TV a seguinte frase: O último elefante nadador. E isso me trouxe um deslumbramento digno de um poema cheio de cores e luz, mas que pretendo expor a morte. Estou me deparando com alguns problemas da escrita e percebendo que escrever nem sempre é lúdico. Vou ver o que posso fazer dentro de sete dias. Preciso de música.
Não sei se ainda escreverei mais, deixarei a página aberta com o post suspenso até o último sopro.
Além disso tenho que publicar meus minicontos sob um pseudônimo, tenho caído na graça de caçar algum nome porém nenhuma delas é mais fiel e ululante do que unir-me ao blog e publicar sob o nome de Benjamim. Só preciso de um sobrenome ... 
Minha avó esta começando a enfrentar os choques da velhice e entrando em paradigmas. Manchas de sangue pisado aparecem em seu corpo logo depois de qualquer insignificante batidinha. Penso no tempo. Penso em mim. A vida é realmente breve. Porém ela ainda preserva a alma de menina levada e que pode viver quantos anos lhe caberem ainda não está pronta, não aprendeu a viver em sua totalidade, e pra sempre ainda continuará aprendendo. 
O dia corre e nada de inspiração, gosto de escrever dessa forma, sintetizo meus dias e me acerto comigo mesmo, é uma alto-afirmação, se é que essa palavra ainda se escreve assim ... 
Quero ainda subir num trio-elétrico e cantar, em dias em que acordo cansado qualquer grito me leva ao choro. Hoje não será dia de inspiração, é melhor apenas ler. Preciso de música ... 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Dezembro

Dezembro é mês pra mim. Desde que me dei por gente esse é meu mês (mais até do que Janeiro que é mês do meu aniversário). Ele carrega duas forças: a constância e a mudança. O Natal é meu feriado favorito ele é uma celebração daquilo que é e não muda, da família, do nascimento, e felicidade. O ano novo obriga o mais grosso dos seres a ter esperança de algo novo, de mudança.
Quero escrever mais aqui, (se minha impotência descritiva permitir) agora que tenho tempo pra ler, pensar e ser. Quero uma mudança constante, e quero relatá-la. Quero a inspiração e a expiração. Passarei a redigir textos mais vagos que serão relatos da minhas presença e imaginação. Tenho andado angustiado, e lido muito Clarice. (Posso até ser patético por isso e devido a ridicularização que o humor midiático e popular  faz em relação a ela, tenha descreditado minha escrita, o que importa é que ELA SE FAZ ASSIM, e meu reconhecimento perante ela e a obra dela é mais forte do que qualquer vontade de se fazer de outra forma o que escrevo e o que vivo.)
Eu sei que não sou lido, e não sei se isso me causa raiva ou delícia. é que escrevo apenas pra mim. Troco o papel pelo blog pelo singelo risco de ser descoberto, que seria verdadeiramente uma delícia. Na verdade me desfaço de qualquer vontade de sucesso, pelo simples fato de ser ridicularizado também (que me mataria). Assim finalmente depois de exitar uma vida inteira, constituo um diário público aberto a todos interessado a poucos.
Como minhas postagens seram numerosas, dificilmente saberei como nomeá-las. Antes eu sempre partia do título, pois o título é um definidor e definir é perigoso, por isso deve-se ser feito com cautela. Agora com grande matéria em jogo, encontrarás matéria sem títulos e saberás que é porque não pude me definir...
Mudarei a layout do blog, pois trago mudanças e os novos se fundirão. é preciso abandonar o velho. Não vou mexer no nome do blog pois não quero ser tão radical, e me há uma impotência perante a escolha de novo nome: não quero pensar, pois seria longo e trabalhoso, e o nome Benjamim já esclarecido no primeiro post aplicasse ainda no intuito do diário. Dessa forma enquanto ainda não me encontro no mundo e não trilho meu caminho de existência e sucesso, começo já a trabalhar meus talentos e ter uma carreira antes da minha carreira. 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Estou a três dias tentando escrever. Adiei a narrativa por medo de não conseguir escrever a verdade, porém  apresso-me por medo de perder a história de dentro de mim, ou ela fugir da minha cabeça antes mesmo de existir. O texto não tem nome porque aquilo que senti também não tem. Eu não sei a palavras pela qual aquilo é chamado, a definição mas próxima é Angústia. Mas definir é limitar e prefiro que isso siga inominável. 
A pena que sinto de mim mesmo é grandíssima como já relatei, e o relato seguinte é uma crônica sobre a insegurança. Tenho receio de escreva-lá por medo de parecer tolo. Hoje eu fui tolo. Me culpei instantaneamente apenas pra sentir como é, ser culpado, ser apontado, ser resignado, ser punido. Não que eu tivesse tido culpa, não tive, mas tive culpa de não sentir culpa. Então me culpei. A culpa é algo tangível, ela resta dentro da gente. O resto não ... Agora me absorvo do vergonha, não vergonha por ter sido culpado, mas vergonha por não ter sido culpado. 
Porém voltemos a minha dor, a culpa vai passar, enterrarei-a com mais dela. Minha dor é datada de sábado, tempestuoso, mal acordado, não deveria ter levantado da cama. Mas deveria, pra poder sentir minha dor que nada mais é do que eu mesmo. Levantei gripado com a voz roca e o nariz escorrendo, de uma forma ou outra isso já mostrava um desequilíbrio interno (o texto está me saindo deveras muito fácil), a minha manhã foi perdida numa sala de recepção inutilmente por isso prefiro esquecer-lá. A agonia aconteceu exatamente depois das duas da tarde quando cheguei num churrasco de comemoração do aniversário de alguém tenho nenhum afeto nem conhecimento, porém deitei na cama dessa pessoa e não sei se isso me fez bem ou mal, mas fez. Quando fico gripado ou minha inúmeras alergias resolvem se manisfestarem, meu emocional é preenchido de uma vasta impaciência sem nome, e que acaba com qualquer boa primeira aparência que alguém possa ter de mim. O problema foi o meu permanente desespero de não negar a vida social, porque nada é dentro, aquilo que não tenho emergido de fora. Cheguei naquela casa minúscula onde todos estava espremidos assando carne e bebendo muito. Nessa hora percebi que a alma não cabe em um lugar onde o corpo é incômodo,
O texto foi interrompido em vírgula e é assim que o deixei, quero que a escrita tente se aproximar daquilo que sinto ou me acontece. Hoje já é terça da semana seguinte ao que foi escrito, fazem dez dias que deixei aquela festa em pó, e me tem sido difícil escrever porque a letra não obedece o sentimento.
Porém nesse hiato pude perceber mais do que antes, pude resgatar uma sensação de perdição que foi o clímax do meu dia, digo então que a agonia me correu o dia todo e meu clímax foi a perdição que me afogou entre a cozinha e o quintal daquela casa desconhecida.
Um casal de irmãos estavam lá presente, quando cheguei fui automaticamente cumprimentando uma velhacada sadia que estava presente e minha mãe. A responsável pela minha presença inconveniente naquele lar estava muito atrás, nesse momento foi o início da minha solidão. Como adentrar aquele lugar cheio de gente estranha como se fosse alguém que era pra eles. Eu não era pra eles. Nunca tinha sido, eles não me conheciam, mas eles eram, e o mais importante eram um pro outro ...
Mas eu não era pra eles, e nem fui, porque certamente não me guardaram na memória. E mais ainda eu não era e não fui pro casal de irmãos que não me notou antes, nem depois. O mais doloroso foi saber que eles eram eu, ou eram oque eu desejaria ser, acima de mim que sonho ...
O sonho é uma faca de dois gumes pois quando nasce, brota como rosa, cresce e se não realizado é como se o botão fosse subitamente cortado restando apenas um espinho, que é eterno, e que fura, e que mata. Por isso jovens não sonhem o único modo de ser feliz e não levar a vida com expectativa, a expectativa mata, pois a realidade é intangível à ideologia.
Mas voltando ao domingo, o único modo de seguir naquele lugar foi travar conversa com minha mãe, que eu conhecia, enquanto todo aquele povo se banhava de vinho e linguiça, me oferecia bebida e eu bebia apenas por educação, o que é horrendo, porque dessa forma o álcool tornasse um vício mais rápido ainda. E o casal de irmãos tocava violão em um cômodo distante.
Novamente aquela gente toda tentava entrar na minha presença, só que isso só servia pra me fechar mais e mais, e culpar a gripe que em nada me incomodava. Até que minha mãe sai de perto de mim na desculpa de ir ao banheiro. Então senti o o chão estava esvaindo ...............
Algum tempo depois não suportando mais o desconsolo da solidão em um lugar cheio de gente precisei ir atrás dela, antes que aquela multidão de vida próspera me devorasse ao seu modo. Cassei na casa toda, rodava em todos os quartos, e de novo e de novo e de novo e de novo. Na sala o irmãos tocavam alegremente juntos umas senhoras brancas e ex-radialistas. Aquela alegria toda me apunhalava, de quebrava, me destruía, justamente que ela não era minha, fui a minha inveja mas pura, porque eu não os inveja e sim amava por serem a mim na minha ideologia.
Parei entre a cozinha e o quintal depois da sala onde tocavam. Ali foi como se eu estivesse á derivá sobre um ralo, minha sensação de perdição cresceu e me engoliu "Como minha mãe, a única razão da minha presença ali, me abandonou tão cruelmente na casa daqueles que eu não conheço e não me são ?" o ralo foi me sugando e de forma alguma eu me sentia parte daquela gente, andei em círculos quatro vezes em completa desolação como se naquela hora eu percebesse que jamais voltaria pra casa, e então teria que viver na rua onde eu não ERA pra ninguém.
Então a dona da casa passou pelo corredor e eu perguntei onde estava minha mãe:
- Ali na sala! - disse ela.
Admirando o casal de músicos, que me denunciavam. Quando me dei conta estava na frente deles todos completamente nu em sentimentos com cara de perdição, perdição, PERDIÇÃO ... era o que eu era pra mim mesmo perante eles todos, PERDIÇÃOOOOOO ...
Fingi, fugi então que era, e disfarcei friamente perguntando pra minha mãe onde era o banheiro. Quando cheguei na porta abri, entrei, tranquei e chorei. Chorei como reação da minha própria reação de perdição. Defequei ali mesmo oque era devido a toda a explosão de ser que eles eram. E urinei de graça naquela casa como uma reação da injúria que eles me foram, um "VÃO SE FODER, meus queridos".
Recuperado voltei pra fora e disse que não estava bem então a dona da residência aquela criatura que me é totalmente externa, me ofereceu sua cama. Aceitei como necessidade de desaparecer com meu corpo presente e minha alma perturbadíssima daquele lugar ... fui e me engoli na minha própria vergonha por não enfrentar aquele mundo, O MUNDO. Indecência.
Deitei lá, e lá fiquei incômodo , mas era mais relaxante pro meu corpo e estava deitado, numa cama dura, mas estava ...
Esse post sai duramente no início, mas agora no final ele me escorre como forma de aceitação e liberdade. O que postei antes foi uma preparação pra essa tempestade que foi a minha agonia e perdição de domingo o qual eu não pude deixar de marcar.
Sai de lá só na hora de ir embora, quase gritando com a velha mãe da aniversariante que não me quis deixar sair sem comer o bolo, eu sai bem rápido sem dar tchau pra ninguém, principalmente pro casal de irmãos, pois aquela não era hora pra eles mudarem a imagem que me tinham dado ...
No carro me soltei, derrubei o peso que eu carregava desde o inicio, me fiz confortável e perguntei como quem desconhece sobre aquela gente todo e principalmente os dois irmãos. Minha mãe os relatou com ar de rendeira que malda as pessoas nas tardes vazias, aquelas crianças tocavam e felicitavam por obrigação, era sonho irredutível do pai que eles fossem aquilo tudo, e no ato de não ser de desejo também não eram de alma. Descobri então que eles não me eram, não houve contato poderia simplesmente esquecer tudo aquilo e seguir como todo dia a vida nos obriga a esquecer e seguir. Seguir pro amanhã, que novamente nos apunhalará e teremos que esquecer. 

Se queres sentir a felicidade de amar, Esquece a tua alma./ A alma é que estraga o amor./ Só em Deus ela pode encontrar satisfação./ Não noutra alma./ Só em Deus - ou fora do mundo./ As almas são incomunicáveis./ Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo./ Porque os corpos se entendem, mas as almas não.


BANDEIRA, Manuel. "A Arte de Amar" ; Meus Poemas Preferidos. Rio de Janeiro: Ediouro.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Fonte Híbrida

Jane, nascida Maria Aparecida
Seguia na vida a própria arte
E seduzia, por suas vias, pela voz e pela disritmia
Tal ela amava Heros, na Era de Aquários

No meio do mato, o meio-fio, o rastro
O sangue farto era do herói condenado
Jane deitou de lado e olhou o retrato
Perdido o bem amado - Afasta de mim este cálice - o vinho era salgado

Fonte Híbrida, dizia Jane os vasos do ventre
Jazia ali a semente híbrida do amor
Deitado ao lado o touro indomado
Que na calada da noite ansiava pelo melado

Da fonte parida, pela mãe natureza, por dois ventres
Desembocava três rios afluentes
Do útero renasce a própria vida
Do amor, a força agita, três crias

Jane de corpo e alma deixa a vida
Desolada, acalenta antes do grito
O nome decente da lua - que brilha - nasce primeiro, Selene
Agúdo no couro, - relato do touro - Álvaro, o coxo
Da dor do eterno e o breve perdido incerto
Gritou por seu pupilo Marcelo

Se bem antes expresso e não mencionado
Atílio melado, nos brios de Bento Santiago, no ciúmes de Otelo
Cortava em fogo as asas de Marcelo
Queimava em brasa os tocos de Álvaro, o coxo
Tapava a ferro a boca celeste de Selene

Ah se piedades tivesse Jane santa seria
Atílio deveras via a Era de Aquários nos olhos dos filho de Heros
Ah se piedades tivesses, Deus se compadecia

Ás vezes na rua, no beco, na sarjeta, Deus
Jesus Cristo que fala aos filhos do próprio pai - que és tu! -
Na terra se fazia em voz, e ao coxo pelas pernas curaria
Ele por paixão e graça o seguiria, asas nas costas tatuaria

Se santa Jane fosse ... apadrinharia a própria filha
Da voz se sentiria bonita
Da mãe a trilha seguiria
Asas nas costas tatuaria

Se Jane não tivesse partido, Santa seria
Marcelo, de falta de amor, constituiria família
Gaia, com três semente, engravidaria e enfim a família se consumaria
Do amor outrora interrompido, o parto, Marcelo acalentaria antes do grito - Selene, Álvaro, Marcelo! -
Asas nas costas tatuaria
(Rafael Carvalho Oliveira)


domingo, 10 de novembro de 2013

Do amor paternal e da verdadeira vocação existêncial

No ano passado eu odiava crianças. Esse ano fiz planos para ter três filhos. Tenho dezesseis anos. Mas estranhamente sonho em ser pai. Minha irmã diz que a chegada de três primos repentinamente amaciou o coração de todos nós, mas eu acredito que seja uma certa evolução de caráter e sentimentalismo. Fui uma criança muito amada, mas chorei muito pouco. Desde cedo percebi que a vida era dura e quem chorasse muito não venceria. Hoje na adolescência, choro tudo o que não chorei quando criança, quando fico muito tempo sem chorar me sinto seco e então se não tenho tristeza própria caço alguma em livros e filmes. É uma cede que tenho e que estimulo, sinto até certo prazer em sofrer (é uma forma de saciar a pena que sinto de mim mesmo), depois levanto e sigo a vida.
Diferentemente dos poucos amigos que tenho e das minhas ligações com o mundo, eu quero ser pai. Não sinto desejo algum de aproveitar a vida "aproveitando a vida", dá forma convencional, que todo mundo faz e acreditar ser transgressor. Aproveitar a vida é fazer aquilo que te traz satisfação, e a vida é curta. Primeiro fato. Rodeios são curtos. Segundo fato. A nossa casa dura mais tempo. Terceiro fato...
Hoje voltei de viagem, fui à praia, que pra mim é um pouquinho de Deus na Terra. E dessa vez encontrei também um anjo. Em família as viagens são tumultuadas por gente, e tenho muitos primos. Nessa manhã um menino loirinho de seis anos apareceu em nossa barraca:
- Ei, eu tenho um monte de carrinhos. Vamos brincar ?
Sentou com a gente e em poucos minutos já tinha feito amizade com todo mundo e era como mais um filho de outra mãe. Correu, gritou, brincou, dançou. Depois quis entrar no mar, mas tinha medo de ir sozinho e a mãe nem importava-se com o menino solto pela praia, ele foi comigo ...
Na água ele se preocupou com coisas que passavam debaixo do pé dele, então eu peguei uma bolacha-do-mar, e disse:
- Olha só, chama-se bolacha-do-mar.
- E pode comer ?


Eu fico admirado e contente quando tomo esse choques de imaginação infantil. Pra mim essa é a verdadeira realidade, a chatice de que os adultos se gabam é pura mentira inventada pra encher de não sei o que o vazio que o crescimento traz pro ser humano.
Daí que, papo-vai-papo-vem, esse garoto chamado Marcelo, passou o dia inteiro no meu encosto, rindo, falando, cantando e dançando. Eu cuidei dele como se fosse meu filho, e ele achou em mim algum presságio de paternidade. O que me admirei dele foi sua total cumplicidade com qualquer pessoa que chegasse perto. Primeiro ele fez parte da nossa família, depois pescou com uma senhora na beira do mar, depois enfrentou uns valentões que estavam entrando na água, pegou um caranguejinho na mão, montou nas minhas costas,  me falou da namoradinha da escola, me abraçou, perguntou se eu era seu amigo, repetiu que era meu filho, me falou que o pai dele arrepia o seu cabelo, se coçou inteiro e arrancou a sunga dizendo que tinha um espinho, me viu ajoelhado e perguntou se eu estava mijando, mijou duas vezes, lutou, pulou ondas, engasgou e fez parte da minha via por um dia. Eu o amei como se fosse meu, acho que ele também me amou no fundinho da sua alma novinha, comeu frango comigo, tiramos uma foto, bebeu suco de uva, soltou pipa, e eu fui embora, ele correu pra mãe dele e entrou de novo na água junto com uma tia.
Ele me fez refletir sobre como seriam meus filhos, a mãe dele tão despreocupada me fez crer que não ligasse pro filho, eu tive até vontade de adotar ele. Me deixou um pouco triste quando se foi, quero deixar ele aqui nesse post, pra não me esquecer do meu filho da areia. É impossível exprimir o que se sente quando se tem um ser humano de amor à sua tutela, e como você faz de tudo pra protegê-lo (a despretensão da mãe fez meus parentes se ofenderem e insultarem o menino). É essa a razão da humanidade, transmitir, canalizar o amor que se ganha e se recebe ... E é a verdadeira vocação humana, por mais rodeios que o mundo possa trazer. Adeus, Marcelo...


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Querido Deus,

Primeiramente quero pedir desculpa pela falta de contato e atenção, tenho me sentindo indigno pra lhe dirigir a palavras devido a uma série de anormalidade que vem tomando minha mente ultimamente. Eu passei meu último ano pedindo, implorando, rogando, chorando por mudanças. E agora a mudança bateu a minha porta e eu não sei se fico ou se vou.
Passados dezesseis anos de aprendizagem por segundos sobre ti, meu novo caminho me revelou impróprio e leviano à tua busca. Porém, essa porta abre pra todos os homens e se não me matar servirá como experiência pra o crescimento da prole ambulante e improvável que eu fui a vida toda. Hoje que tenho em mãos a oportunidade de ser aqueles que me negaram, a única coisa que me prende ao chão é a tua ausência.
Minha vida volta a ser uma ponte em forma de Y e eu não sei qual dos dois caminhos vou finalizar ...

Com amor,
Rafael

domingo, 20 de outubro de 2013

Matheus

Dizem que é possível perceber o caráter da pessoa pela forma como ela trata seu garçom, e isso é verdade. Desde que comecei a praticar o ofício, tenho aprendido que as pessoas são o que aparentam, porque se não fossem, não aparentariam.
Ontem, excepcionalmente tive o prazer de servir um copo de água a um garotinho chamado Matheus. Uma criança linda, de traços finos e voz acalentadora. Passei de relance pelo quarto da cama elástica, onde ele pulava sozinho:
- Olha como eu pulo alto! - ele disse.
- Eu tô vendo. - falei.
- Você pode ficar um pouquinho aqui comigo ?
- Mas eu tô trabalhando, tenho que lavar louça, varrer o chão ... - falei lançando um olhar pelo corredor do salão. - Você já varreu o chão ? 
- Eu não, num sou adulto.
- Eu também não, só tenho dezesseis.
- Ah, você é adolescente ...
- Posso ir agora ?
- Fica só mais cinco minutinhos. 
- Tá bom. - desisti.
Ele continuava pulando, então tentei puxar assunto usando aquele diálogos simples e sem interesse que as crianças tratam como se fosse um assunto interessantíssimo. 
- Como você chama ?
- Matheus !
- Quantos anos você têm ? 
- Seis anos.
- Logo, logo você vai ser grande, hein. - Então tive vontade de saber o que esse baixinho pensava. - Você quer crescer ? 
- Quero. 
- Por quê ?
- Ahh ... é ... pra varrer o chão !
Eu fiquei pensando em toda essa despretensão da vida que as crianças possuem, e percebi q a única causa da infelicidade social que atinge a todos é justamente esse negócio de saber de tudo, ter obrigações e responsabilidade. Lógico que Matheus vai crescer e vai descobrir que crescemos não só pra varrer o chão, mas eu posso "descrescer" e acreditar que cresci só pra varrer o chão. A obrigação só depende daquele que a faz.
Depois disso conversamos sobre a China, pandas, urso polares e pinguins. Um amiguinho dele chegou e eu fui varrer um chão desejando que Matheus não fosse embora sem me dar tchau. 

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Ensaio sobre o Nascer e o Crescer

Seria quase normal, quase natural. Se não fosse oscilante. Quantos homens são necessários para destruir um mundo ? Quanto tempo leva pra devastar um nação inteira edificada na memória familiar, afeição, prazer, comodidade e segurança. Em busca de apenas uma coisa. A coisa, uma coisa, nova coisa. Qualquer coisa.
Mas e essa qualquer coisa, oque é ? Resposta simples, fácil, e objetiva. Eu não sei. Você não sabe. Ninguém sabe. Só uma única coisa é certa. Ela é Tudo. Mas se ela não for Tudo, também não vai ser Nada.
Exijo apenas uma explicação, Deus. Por que o único fim é A Morte ? Por que pra acabar é necessário "desexistir" ? Porque o fim é reduzir a coisa ou nada ? Mas a coisa não pode ser reduzida ao nada. Porque a coisa é irredutível. "A Luta é desigual." dizia Clarice L. enquanto comia frango. Não adianta reduzir a coisa porque a coisa só pode ser reduzida a própria coisa. E quando a coisa deixa de existir, vira lembrança. e Passa a existir mas irredutível do que nunca.
Mas oque é a coisa. A coisa é minha. A coisa é sua. A minha coisa é o Crescer e o Nascer. Fui incumbido de matar pra sobreviver. Assim como você. E a minha vítima sou eu próprio. Preciso me suicidar, me fecundar e me parir. A primeira luta da vida humana é a mudança. Claro que cada ser humano tem sua luta particular e universal, mas a mudança é a única comum a todos. A minha luta andava lenta e inofensiva, porém ontem ela me perseguiu por cada canto da minha casa, hoje me ronda na noite, amanhã ela possui minha mente.
Ela é uma doença incurável, uma super bactéria, um câncer. Tenho duas opções: vegetar, apodrecer e morrer, ou me suicidar, morrendo para vencer a luta, renascendo da própria morte e vivendo com sequelas.
E essas sequelas ? Elas não serão nada além de mim. Passarei a viver como as sequelas me obrigarem, me adaptando a um novo mundo de condições e tendo como deleite as Memórias. As memórias da vida que foi, que tive, da nação inteira edificada na memória familiar, afeição, prazer, comodidade e segurança, que um dia eu transmitirei para um ser humano que um dia também ira se suicidar pra renascer. Seria quase normal, quase natural. Se não fosse oscilante.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Razão e Circustância

Para aqueles adeptos do cristianismo talvez pouco saibam mas Benjamim, filho caçula de Jacó com Raquel, mesmo que tivesse sido retirado do útero da mãe pela mão direita, não trouxe Felicidade (o que diz respeitos ao significado do nome) ao nascer, pois a mãe, o útero que gerou um rei (José, irmão mais velho de Benjamim, que um dia ainda seria rei do Egito) morreu no parto do segundo filho ...
Talvez Felicidade não tenha sido o motivo pelo qual em um EUA ainda em surgimento, nascia um Benjamin Franklin pobre e autodidata que mais tarde com uma simples pipa (e um choque elétrico) iniciaria uma corrente de estudos sobre a Luz ...
Mas e a Luz ?
Não, a Luz não possui relação alguma com a Felicidade por mais que a mente humana tenho o impulso de unir- las, pode-se dizer que dá pra ser feliz na penumbra ...
Talvez nascer idoso e morrer criança possa ser uma incrível metáfora sobre o tempo, mas não é tão fácil na pele de Benjamin Button (no filme protagonizado por Brad Pitt) alcançar-lá, tanto que ele a possui apenas por um curto tempo ...
E o Tempo ? Há relação entre o Tempo e a Felicidade ? Dizem que o tempo cura de tudo, mas não traz Felicidade pra ninguém, ao menos ameniza o espírito e amortece a alma.
Será que Chico Buarque fazia juízo do significado do nome ao qual alcunhou seu personagem Benjamim, no romance homônimo. Um homem totalmente perplexo que buscava a Felicidade através de memórias da mulher do passado e relapsos da mulher do presente ? Acho que Chico como bom músico que é, só tinha interesse na sonoridade adocicada e sublime deste nome.
O único intuito que me fez tomar posse desse nome é o significado relativo a Felicidade e a sonoridade lúdica e pura. Em tempos de guerra todo homem é uma ilha, e nessa ilha a única labuta é a caça à uma espécie rara: a Felicidade.
Essa rara ave de rapina, que dizem ter uma carne doce, de gosto pleno é talvez a grande fome da humanidade e é por ela que todos procura, em suas próprias ilhas, Eu mero caçador estou buscando a minha através dessa máscara que é Benjamim. Apenas uma face que vê o próprio mundo de vários pontos de vista.
Assim como todo bom rato de biblioteca só sei me expressar escrevendo, nem mesmo falando consigo. Tenho reações lentas e uma mente sem conceitos, só rubricas. a minha busca pela ave de rapina será minuciosa e introspectiva, só peço a qualquer possível leitor, paciência, pois como toda criança que precisa de muito tempo e cautela para crescer, meu Benjamim acaba de nascer, retirado pela mão direita ... a da Felicidade.